Já amanheceu o novo ano. Estou
sentada na varanda suspensa de uma casa imersa no cerrado e penso em você.
Penso muitas coisas, sinto muitas
coisas. O sol aparece forte e ardido do meio das nuvens cheias de chuva, são
8:40 da manhã e sinto a pele queimando enquanto te escrevo. Sinto também
queimar o meio do peito, como se o coração se expandisse além da conta. Depois
ele murcha e o peito fica cheio de vazio. Encontro uma garrafa de vinho e,
mesmo já sendo dia, vou bebendo de gole em gole.
Você foi a primeira pessoa que
pensei quando virou o ano e ri pensando: “logo ela que não quer ser o centro
da vida de ninguém”. Naquela comoção ansiosa dos pedidos da meia noite
quase pedi que você me amasse do jeito que desejo, mas não.
Pedi que, tanto você, quanto eu,
não tenhamos medo.
Agora o sol já me incomoda, fico agitada, me distraio os pássaros, o som das coisas em movimento enquanto busco a palavra certa pra te dizer nessa carta também suspensa.
Fazia tempo que eu não caia nesse
buraco que cai esses dias, foi ligeiro e profundo. Não se culpe por isso, já era
uma rota prevista. O meu estado de euforia já vinha de dias: Quando a vida me
excita, tendo a passar um pouco do ponto preciso. E tudo se emaranha.
Algumas amigas já vinham falando. Eu
vinha me observando. É muito estranho quando a gente não consegue entender se
aquilo é parte da vida, se é real ou se é só um sintoma. É muito estranho achar
que está segura, que dessa vez sim, será possível controlar o incontrolável.
Eu matéria liquida, sem forma, escorrendo,
desejando o contorno do rio.
Você. Tanto.
Tão recente tudo, tão avassalador.
Tem o teu caminho até agora.
Tem o meu caminho até agora.
Você.
Tão despretensioso.
Tão bonito.
Queria um não nome para as coisas
sentidas, para as coisas vividas. Queria inventar um verbo que nos coubesse inteiras.
Queria inventar um verbo que pudesse contemplar você, eu, os sonhos, as dores,
os descompassos, os desamparos.
Queria um verbo que soubesse
dançar.
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