QUALQUER UM PERCEBE

ela chegou devagar parou no meio da sala esticou o braço até meu peito e com a mão dentro apertou meu coração para que ele voltasse a bater. não tive tempo de dizer não-sim ou ao menos perguntar a razão: desapareceu no meio dos sorrisos das pessoas e deixou meu coração batendo por ela. a primeira vez que fiz amor com ela era alta madrugada. deitei no colo dela enquanto seus dedos se enroscavam em meus cabelos como se fossem as cordas de um violão. dormiu enquanto tocava meus cabelos, vê-la dormir era a mais bela das canções. o sol amanheceu com meus olhos dentro dos dela, perdi a vista, quase não conseguia mais olhar para fora, pulei no abismo que era ela e eu não sabia. e ela? desapareceu. disseram que foi pra longe, pro lado contrário. quando voltou era primavera, não me procurou. nas ruas diziam o motivo do retorno: um pedaço dela que ficou por aqui e sem se dar conta partiu. demorou que soubesse que o que faltava nela batia e mim e foi me procurar (escrito originalmente em 06/08/20

chove lá fora e tudo em mim.

inspirado em Anazézim . o que quero do nosso amor, é o bule fervende água pela manhã no fogão. vou esquentar os pães e tentar encontrar palavra que possa dizer, e nunca encontrar, e te ouvir falar coisas, bonitas ou não, coisas. recolher meus pedaços pela casa, aprontar as malas e partir. te amar é em cada adeus, um tanto mais de amor.

ao som de "angelitos negros" (cat power) tenho cabelos curtos que não escondem os meus olhos escuros de lágrima e terra, choro pouco de água. tenho nuvens nos olhos que quando trovão, chove. quando chovo me inundo toda, viro rio e corro. vou correndo correndo correndo... tenho mãos pequenas de calos espinhos e perfumes, carrego o mundo entre os dedos e me banho dele quando seco. minhas mãos não sabem pintar, mas colorem, perfumam e machucam. minhas mãos rasgam: folhas, palavras, eu, você. minhas mãos amam: folhas, palavras, eu, você. minhas mãos voam, meu coração parte. tenho os olhos tristes e os pés que caminham, não podem parar. tenho olhos: mãos: coração: pés.

correndo pela areia com os mãos cheias de flores pra te dar. quando te alcancei, tropecei. era tudo flor: você e eu.

quando seu olho me olha viro poesia cantiga