brasília, 13 de dezembro de 2024
cacaramujo:
já começo essa carta sorrindo porque me dei conta de que eu queria ter te chamado de cacaracol, mas cacaramujo se antecipou e pareceu bonito. logo pensei que manoel já deveria ter dito algo sobre caramujos e ligeiro encontrei esse poema:
"há um comportamento de eternidade nos caramujos.
para subir os barrancos de um rio, eles percorrem um
dia inteiro até chegar amanhã.
o próprio anoitecer faz parte de haver beleza nos
caramujos.
eles carregam com paciência o início do mundo.
no geral os caramujos têm uma voz desconformada
por dentro.
talvez porque tenham a boca trôpega.
suas verdades podem não ser.
desde quando a infância nos praticava na beira do rio
nunca mais deixei de saber que esses pequenos
moluscos
ajudam as árvores a crescer.
e achei que esta história só caberia no impossível.
mas não; ela cabe aqui também."
"achei que essa história só caberia no impossível"
faz tempo que não escrevo uma carta, me perdoe, estou um pouco confusa.
será que quando a gente desiste da poesia ela também desiste da gente?
eu andava me sentindo carregada de impossibilidades.
eu gosto do riso suave que você dá no final de uma frase qualquer.
tem um monte de coisa que eu queria te dizer, mas são assuntos diversos e não consigo encontrar a ordem correta. devo começar com quem fui?
eu gosto do jeito que você pausa o beijo e me olha sorrindo nos olhos.
não quero falar do que fui, nem do intervalo entre o antes e o agora. quero dizer que você trouxe junto de si uma corrente de ar.
inspira.
expira.
os pulmões enchendo novamente, oxigenando a pele, o sangue, veias.
também quero te dizer que sinto medo. tudo parece tão precioso, não?
eu gosto do jeito que você mergulha em mim.
quero saber te amar inteira, quero que saiba me amar inteira. fico tentando prever seus defeitos em contato com os meus.
saberemos alinhar os desalinhos?
"o próprio anoitecer faz parte de haver beleza nos caramujos".
eu gosto da sua voz, poesia.
você cabe em minhas fotografias e vai invadindo cada espaço vazio e deixando tudo mais brilhante, eu gosto de imaginar você nas minhas paisagens que ainda não conhece. o teu nome cabe exato na minha boca e quando seu corpo chega perto do meu, me confundo na sua pele, cheiro, suor.
você abre espaço, retira o excesso, reinventa possibilidades.
gargalho em sua boca, brincadeira e gozo.
cacaramujo, bem vinda seja.
me interessa que eu alcance em você algo parecido com o que você alcança em mim.
porque é
bonito
e real.
que saibamos brincar por muito tempo
que nossa gargalhada nunca cesse
e que seja bobo enquanto dure.
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