Ultimamente nossos olhos tem se encontrado demasiadamente, digo de-ma-si-a-da-men-te como uma forma de enriquecer o que escrevo, mas no puro da palavra é: nossos olhos têm se encontrado com mais frequência: a gente se olha e se vê.

Hoje você me olhou diferente, sorrimos mais largo e havia alguma espécie de cumplicidade em nossos olhares, embora eu não saiba dizer em palavra o que era: Havia a sensação de algo suspenso.

Como quem volta no tempo, sei que não conseguimos suportar nossos olhos um dentro do outro por um tempo longo, suas mãos começaram a tremer e eu mantive uma certa frieza que não era fria: Era uma sensação de quase alegria de ver - ou pensar ver - que de alguma forma minha presença te afetava. Você ficou confusa, falou rápido sobre coisas que demandavam algum tempo e eu só disse: tá tudo bem.

Você então sorriu, sorrimos juntas.

Dava pra ver que você tinha pressa, não daquelas pressas desconfortáveis ou do tipo que há algo muito mais importante a se fazer. Era daquelas pressas que a gente tem quando não consegue sustentar a presença do outro: Quando muitas perguntas ainda estão sem respostas.

Sabe aquele exato momento que a adrenalina chega inesperadamente e faz o coração descompassar, sabe?

Era isso (ou eu penso que era isso)

Exatamente como todas as pressas que senti todas as vezes que estive perto de você.

Até hoje.

Menos hoje.

Não sei como aconteceu, mas hoje eu te olhei de-mo-ra-da-men-te. Enquanto você se perdia entre os papéis e as coisas todas que nos rodeavam.

Você se levantou - reparei que tem a mesma altura que a minha - então pediu desculpas por alguma coisa, algum atraso ou ausência de resposta ou por sentirmos algo que ainda não ousamos dizer, aproximou seu corpo no meu e num gesto - que se repete a cada vez que seu corpo se aproxima do meu - ofereceu seu rosto e eu o beijei: Dessa vez com mais intensidade.

E nos abraçamos.

Mas eu não pude, naquele momento, eu não pude cheirar teus cabelos - que é o que desejo todos os dias – porque o teu corpo perto do meu, o teu abraço dentro do meu abraço, a maçã do teu rosto na minha boca, tudo aquilo me tomou como uma porrada: E em volta tudo desapareceu e nem sequer posso me lembrar de como saímos daquele instante.

Tenho bebido demais, como era de se esperar. Embora ninguém queira assumir, assumo nesse momento a minha previsibilidade.

E então, na minha embriaguez fico revisitando as coisas que senti, que vi, vivi nos poucos minutos que usufruo ao teu lado, fico alimentando o bichinho da paixão como uma mãe que oferece o peito ao recém-nascido, ainda sem saber que amor é aquele que pode, ou não, nascer com o tempo.

Uma amiga disse que só de você ser a inspiração para que eu escreva coisas profundas e cafonas e intensas, só isso já é amor. E é belo. E que a beleza nenhuma nunca deveria constranger ou prejudicar ninguém.

Leia o que digo com olhos de amor, mesmo que nossos afetos se desencontrem. Receba o que te digo como um presente.

Como um presente.

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