olha, eu te pediria socorro se não houvesse essa voz engasgada no peito, eu pediria suas mãos seu colo seu abraço se não houvesse esse medo no corpo todo. há quanto tempo deixei de saber? desaprendo a cada dia, sei menos nesse momento e agora, e agora, e agora, e agora, e agora, e agora, e agora, e agora, e agora, e agora? eu fui deixando de saber as formas, os jeitos e agora estou aqui com essa voz engasgada e esse medo quase suplicando que você me olhe e me salve sem me dizer nada: só me salva no seu abraço e finge que não vê nos meus olhos que eu sou a pessoa mais triste do mundo. vai arrancando essa dor de mim repetindo com seus olhos que vai ficar tudo bem, tudo vai ficar bem, tudo bem. me salva dessa dor, desse oco, esquenta meu coração com suas mãos e finge que eu não sou a pessoa mais triste do mundo.
brasília, 13 de dezembro de 2024 cacaramujo: já começo essa carta sorrindo porque me dei conta de que eu queria ter te chamado de cacaracol , mas cacaramujo se antecipou e pareceu bonito. logo pensei que manoel já deveria ter dito algo sobre caramujos e ligeiro encontrei esse poema : "h á um comportamento de eternidade nos caramujos. para subir os barrancos de um rio, eles percorrem um dia inteiro até chegar amanhã. o próprio anoitecer faz parte de haver beleza nos caramujos. eles carregam com paciência o início do mundo. no geral os caramujos têm uma voz desconformada por dentro. talvez porque tenham a boca trôpega. suas verdades podem não ser. desde quando a infância nos praticava na beira do rio nunca mais deixei de saber que esses pequenos moluscos ajudam as árvores a crescer. e achei que esta história só caberia no impossível. mas não; ela cabe aqui também." "achei que essa história só caberia no impossível" faz tempo que não escrevo uma carta, me perdoe, e...
Ler e me sentir em um espelho, teria eu mesma escrito? por que a semelhança do sentimento é imensa. A alma pede redenção.
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